23/07/2018
Nos últimos domingos temos meditado sobre a figura do Profeta e hoje contemplamos a figura do Pastor em face do discipulado de Jesus. A alegoria do pastor e das ovelhas serve para exprimir na linguagem bíblica a relação entre Deus e o seu povo. O Senhor confia a pastores humanos o cuidado do seu rebanho (cf. Jr 23,1-6), mas ai deles se o dispersam! Será o próprio Deus pessoalmente que irá reunir as suas ovelhas: “Eu vos darei pastores que as apascentem; não sofrerão mais o medo e a angustia. Nenhuma delas se perderá…”
A ressonância no Evangelho dessa profecia de Jeremias é clara (cf. Mc 6,30-34): Jesus é o Messias prometido por Deus que como Pastor reúne as ovelhas dispersas. Já não se trata de uma dispersão meramente geográfica, senão da volta ao Pai, que não quer que se perca nenhuma das suas ovelhas.
Jesus cuida dos Apóstolos, que os havia enviado em missão, exigindo-lhes a fadiga e o esforço do serviço apostólico. Procura para eles um tempo e um lugar para descansar. Quanta humanidade neste pequeno trecho do Evangelho!
Há muito trabalho por fazer, mas para isso há de se repor as forças. Temos o entusiasmo dos Apóstolos, ansiosos por narrar o resultado da sua primeira missão; e temos Jesus que os escuta com afeto, para depois convidá-los paternalmente a descansar, pois também o repouso é importante para recuperar serenidade e força.
“Vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai um pouco. Havia de fato tanta gente chegando e saindo, que não tinham tempo nem para comer. Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado.” (vv. 31-32) Os apóstolos devem descansar, recolhendo-se na comunhão com Jesus e mútua. Eles e o próprio Jesus estão cansados, mas aquele que quer ter vida cômoda não é apto para o serviço apostólico. Porém, Jesus não lança seus apóstolos de uma atividade à outra; a fadiga ininterrupta não é um comportamento cristão. Jesus quer conduzi-los a um lugar tranquilo. Repouso e tranquilidade são necessários para recompor-se, de modo que não só o corpo, o físico se veja livre do cansaço, senão que também o espírito possa chegar ao recolhimento e a concentração.
Existe o medo à tranquilidade e à fuga, do ruído e da agitação, que pareça ser uma fuga de si mesmo: “Eu não suporto estar a sós comigo mesmo e encontrar-me com os pensamentos e sensações que neste caso surgem em meu interior ou com o vazio que nesta situação experimento”, dizem algumas pessoas. Para uma distensão real se faz necessária a tranquilidade, de modo que possamos voltar a nós mesmos e conhecer tanto nossa pessoa com nossos deveres, nossas forças e tudo o que Deus nos deu. Só com esta atitude, buscando encontrar-nos com nós mesmos, nos será possível um comportamento claro, consciente e responsável, sem estresse.
Jesus buscou a tranquilidade para seus apóstolos. Mas eles a conseguem curiosamente só durante a travessia do lago de Genesaré, na barca. Quando alcançaram a margem do lago, não chegam a um lugar tranquilo, mas sim encontram uma grande multidão. Jesus não fugiu dela, ainda que veja frustrado seu intento de descansar, pensa agora de forma diferente. Intui a situação daquelas pessoas e, “teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas.” (v. 34)
É belo ver Jesus tendo “compaixão” das multidões. Isto significa que Ele se sente Pastor e se coloca no meio das pessoas para ensiná-las, para restituir-lhes a esperança e a serenidade. A motivação última é a compaixão: Jesus se compadece dos Apóstolos, que voltam cansados da missão, e também da multidão “porque eram como ovelhas sem pastor”. O que move Jesus e o seu coração de Pastor é a infinita misericórdia com que Deus ama.
“Vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai”. Este convite não é ao descanso no sentido do ócio absoluto. Não se trata de não fazer nada, mas sim de fazer outra coisa. Trata-se da busca da paz interior e da serenidade que não cansa, a limpeza interior que produz sossego. A presença de Deus em nós traz quietude, serenidade, amor, compaixão. É antes de tudo, ter mais tempo livre para pensar um pouco mais que de costume em cuidar do seu espirito, em fomentar a vida interior, em estar em comunhão com Deus.
O descanso que Jesus oferece é o de dentro para fora. Não é um descanso de balançar numa rede, mas sim, o descanso do coração. Não é um relax de praia, mas sim da alma. Não é um silêncio sem ruído, ausência do “eu” que é a razão de muitas de nossas dificuldades, distanciamentos, maus entendidos e solidões.
É muito normal dizer que estamos cansados ou preocupados com coisas pelas quais vale a pena preocupar-se e outras, nem tanto! Quem não está cansado? De quem ou do que estão as pessoas cansadas? De que está cansado o mundo? Hoje cansados, angustiados e oprimidos estão todos: os apóstolos e a multidão dos que sofrem, pessoas frequentemente atormentadas entre a angústia e a esperança, abatidas pela sensação de seus limites, perturbadas e divididas no coração. Entre outras coisas porque já não se sabe para onde ir, nem onde encontrar o verdadeiro descanso. Porque, o ritmo da vida é tão vertiginoso, que se converte em um fardo insuportável e solitário, que nos faz sentir que algo não funciona bem; que não vivemos dignamente, que a vida que levamos… não é vida.
Também hoje andam as pessoas desorientadas, caminhando pelo mundo “como ovelhas sem pastor”. Cada vez temos mais problemas e menos soluções: Em que devemos crer? Que devemos fazer? A quem devemos ir? Frequentemente nos sentimos possuídos pelo desânimo. Não é fácil viver em um mundo tão complexo e tão contraditório. Muitos, não podendo aguentar por mais tempo a desorientação e a duvida, e não se atrevendo a buscar a verdadeira segurança em Deus, se perdem aderindo a qualquer pastor.
Jesus nos diz: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso.” (Mt 11,28) Ele é consciente de nosso cansaço, de nossa fadiga. Ele o sabe muito bem, Ele viveu também como homem. Se alguém sabe de cansaço é Ele. Por isso, nos disse: “Vinde e descansai um pouco”. Sabe que nosso cansaço não só é um cansaço físico, mas também um cansaço como o que também Ele experimentou, da alma, do coração. Só não podemos nos cansar de amar.
Se buscarmos com confiança e coração humilde a Jesus que se comporta como o único Bom Pastor, que pela compaixão e o Amor reúne as ovelhas dispersas, abandonadas e extraviadas, “Ele nos leva a descansar. Para as águas repousantes nos encaminha, e restaura as nossas forças.” (Sl 22(23))
Fonte: https://paraibaonline.com.br/
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